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10-01-2006

Quantas terão sido as ofertas e presentes rejeitados?


Univer(sal)idades - Crianças sem presente(s)

1. Quantas terão sido as ofertas e presentes rejeitados? Quantos gestos terão sido vazios por falta de amor? E que sentir e dizer da grande multidão de crianças que, pouco importadas ou habituadas a receber brindes e brinquedos, não têm presente nem futuro?

Das sensações difíceis para quem educa é o sentir que uma oferta, cuidadosamente escolhida, seleccionada para a própria idade, no acto de recepção da parte da criança, eis que a resposta da parte desta é de uma total indiferença diante do esforçado presente.

Pais e educadores vão notando cada vez mais esta sensação de se acharem enganados, apercebendo-se de que, pelos habituais excessos, estamos a estragar o significado das épocas, o sentido dos próprios gestos, a banalizar e vulgarizar os momentos especiais. Que alegria de outros tempos com um simples chocolate?! Que passividade hoje diante de tantas coisas?! É isso mesmo, temos de mudar! O ter e receber está a ocupar já espaço demasiado na mente de muitas crianças, gerando facilitismo, fragilidade e consequente indiferença.

E, em última análise, por mau hábito que fica gravado na consciência em formação, acaba por haver pouco futuro para quem vive só habituado a receber a ponto de já nada ter valor. Claro que, para nós, é um pressuposto óbvio toda a visão saudável do gesto e da partilha que querem significar um estar presente, fortalecendo os laços, reforçando a amizade, sentindo a frescura e a criatividade no gosto de saber dar e receber.

Todavia, diante daquilo que serão os excessos nada saudáveis, para pequenos e grandes, as coisas mudam... As dezenas de presentes comprados correm o perigo de estar a mais, a substituir o essencial e incomprável: a amizade e o amor, a esperança partilhada, os tesouros mais preciosos! E se nos apercebermos da dinâmica, sempre crescente, deste mundo negociado de (já) preocupação em vez de festividade? então, a verdade será um regresso à simplicidade, onde o essencial serão sempre as pessoas e o mútuo convívio, limpando as quadras festivas das sacas, carregadas de tudo, mas por vezes de nada. E para as crianças, talvez a menor quantidade já seja por si qualidade de sentido das coisas, para que então o gesto tenha mesmo valor.

2. Até porque importa ver mais longe. O sentido universal desta quadra, em ano novo, época pródiga em que a esperança (ainda que sendo difícil!) insiste em se renovar, faz-nos rever como vai a infância no mundo. Recentemente o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF - www.unicef.pt ) publicou relatório perturbador (a 14 Dezembro’05).

Não é só a questão dos números dramáticos (cada um, cada pessoa!), em que centenas de milhões de crianças são vítimas de exploração e discriminação graves e tornaram-se praticamente invisíveis aos olhos da comunidade internacional. Será essencialmente o não se vislumbrar uma esperança, minimamente realista que ofereça o precioso presente de dignidade humana. No relatório “Situação mundial da Infância 2006 - crianças excluídas e invisíveis” vem, desde já, à luz do dia, apesar dos esforços da UNICEF, o fracasso dos “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio” que, até 2015 apontavam a extinção da “pobreza extrema”, o proporcionar da instrução básica a todas as crianças, a protecção das mães e o combate às grandes epidemias.

A UNICEF prevê que ao ritmo actual não será atingido nenhum dos referidos objectivos. E é dramático fazermos as contas e dizermos que se o programa falhar, por exemplo, o fracasso trará a morte a mais de 4,5 milhões de crianças acima das previsões para esse ano.

A discriminação, a pobreza, a Sida, os conflitos armados, a má governação estão entre as causas fundamentais que são travão ao desenvolvimento humano digno. “Centenas de milhões de crianças no Mundo inteiro vivem à margem da vida pública. Essas crianças são presas fáceis para os tráficos, os abusos, a exploração sexual ou pior”, referiu na apresentação do Relatório Ann Venemanaines, sublinhando que se estima em 1,2 milhões o número de crianças que todos os anos são vítimas de tráficos ilegais.

3. Diante deste panorama sem presente e por isso sem futuro, onde a latitude determina drasticamente a própria vida (levando-a à morte), dá vontade de (pro)clamar bem alto que estas crianças que sofrem são americanas, europeias, portuguesas, somos nós! Talvez assim a vontade de mudar este cenário terrorista redobre todas as forças e mesmo as instâncias, das sociais às intelectuais, se comprometam mais decididamente com o próprio mundo (o conhecimento é para servir), dando bem mais em termos de contributo / pressão solidária para travar esta torrente e salvar o maior tesouro do mundo, as crianças. Os diagnósticos estão mais que feitos, apostar na dignificação das crianças será possibilitar a esperança, preparar o futuro.

E ainda que não seja muito pedagógico (para algumas visões), talvez (de pequenino) seria bom ajudar as crianças carregadas de presentes a perceber que amigos da mesma idade nem sequer têm um copo de água para beber... Talvez assim tudo seja mais equilibrado, tenha mais significado, e de futuro existam mais ideias e mãos para ajudar.

Alexandre Cruz*
* Centro Universitário Fé e Cultura de Aveiro


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